Alguns ciganos fazem parte do povo do oriente e, apesar de não serem conhecidos do público mais voltado para o esoterismo de feição europeia, eles são queridos e venerados pelo povo da umbanda.
Entre os encantados brasileiros, talvez os mais instigantes sejam os espíritos ciganos. São exus ciganos e pombagiras ciganas versados em magia. Essa filiação tem sua lógica: afinal, a pátria dos ciganos é o mundo inteiro, sua casa é a estrada, e eles também são chamados de Povo da Rua, assim como os exus e as pombagiras.
A ligação do povo cigano com o oriente também tem lógica: dizem que os ciganos tiveram sua origem na Índia e, em sua vida nômade, percorreram diversos países orientais, de onde trouxeram sabedoria e magia.
Ao longo do século XX, formou-se uma devoção aos espíritos ciganos independente de vínculos religiosos específicos. Entre estes, um espírito muito importante, mas pouco conhecido, é o Cigano do Oriente.
Ainda hoje, a origem do povo cigano continua envolta em mistério, e com o povo cigano do oriente não é diferente. Um ponto significativo do povo cigano, tanto do oriente quanto de outras regiões, é a crença em um único Deus criador, Devel, o que os aproxima da história de povos semitas.
Alguns especialistas acreditam que eles surgiram na Índia, já que o idioma falado pelos ciganos tem muitas semelhanças com várias línguas do subcontinente indiano, e a história deles é marcada por sofrimentos e provações.
Os ciganos foram perseguidos pela Inquisição, o tribunal da Igreja Católica que julgava crimes contra a fé. Como conviviam tanto com mouros quanto com cristãos, os ciganos oscilavam do paganismo ao cristianismo, o que bastava para serem acusados de heresia.
Séculos mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os alemães mataram cerca de 400 mil ciganos, vítimas da ideologia nazista que defendia uma raça supostamente pura, a ariana, na Europa.
Hoje, calcula-se que existam de 2 a 5 milhões de ciganos no mundo, concentrados principalmente na Europa Central, em países como as Repúblicas Checa e Eslovaca, Hungria, Iugoslávia, Bulgária e Romênia.
Os ciganos só chegaram à Europa no século XIV. Não se sabe se realmente os ciganos surgiram na Índia ou no atual Iraque, mas de um desses dois pontos eles rumaram para o Ocidente, chegando à Europa pela região da Armênia, por volta do século XIV.
No século XVII, os ciganos já haviam se espalhado por todos os países da Europa e deles seguiram para colônias na América e na África. O documento mais antigo referente à presença dos ciganos no Brasil é de 1574.
Caso eles possuam mesmo raízes no Oriente Médio, é provável que tenham surgido alguns milênios antes de Cristo. Mas, qualquer que seja o ponto de partida, sabe-se que eles se deslocaram do Oriente para o Ocidente até chegarem à Europa no fim do século XIV.
O povo cigano passa seus conhecimentos de pais para filho, de boca a boca, e compartilha muito pouco dos seus segredos místicos com outras etnias.
Isso acontece porque os ciganos eram preparados desde muito novos para trabalhar com a magia, e tinham medo de que seus conhecimentos caíssem em mãos erradas e pudessem ser utilizados para magia negra – como infelizmente acontece hoje em dia.
Existiu um grupo de Ciganos do Oriente que evoluiu e atingiu um nível espiritual muito elevado e assim passou a ajudar a humanidade através do plano espiritual.
A linha dos ciganos do Oriente trabalha principalmente em processos de curas emocionais e físicas. A linha do Oriente na Umbanda abriga muito mais do que apenas os ciganos, há entidades árabes, chinesas, japonesas, egípcias, gaulesas e muitas mais.
Uma bem conhecida é a Cigana do Oriente, que é muito misteriosa. Alguns dizem que a Cigana do Oriente foi uma jovem e bela cigana que cuidava das pessoas, especialmente dos mais velhos.
Outros afirmam que a Cigana do Oriente era uma senhora que sofreu muito por amor e por isso passou a trabalhar pelos amantes, unindo casais amorosos.
A realidade é que não há uma única Cigana do Oriente, pois, ao contrário do que se pensa, não foi uma cigana só. Como dito anteriormente, existiu um grupo de Ciganos do Oriente que evoluiu e atingiu um nível espiritual muito elevado e assim passou a ajudar a humanidade através do plano espiritual, sendo a Cigana do Oriente um arquétipo de várias ciganas que tiveram uma encarnação de provas, porém de muita dedicação ao próximo.
Quando um médium sugerir a você que faça uma oferenda à Cigana do Oriente, lembre-se que não se trata de uma entidade única, mas sim uma série de entidades personificadas sob o nome de Cigana do Oriente.
Os segredos da Linha do Oriente são muitos, pois essas entidades são adeptas do ocultismo. As entidades da Linha do Oriente não atuam apenas nos terreiros de Umbanda e Candomblé, em todos os centros em que são aceitos e bem recebidos eles atuam.
O que acontece é que raramente os médiuns responsáveis por fazer a comunicação entre o plano espiritual e físico têm conhecimento da própria habilidade para conversar com as entidades do Oriente.
Por isso, é mais comum que as entidades ciganas do Oriente conversem com lideranças dos terreiros, de forma discreta, atuando como uma ajuda na tomada de decisões, como aconselhadoras através da sua previsão do futuro.
A História do Povo Cigano
A história do povo cigano é, ainda hoje, objeto de controvérsia. O termo em português “cigano” (assim como o espanhol “gitano“, e em inglês “gypsy“) é uma corruptela de egípcio, aplicado a esse povo pela crença errônea de que seriam provenientes do Egito.
A origem do povo cigano foi objeto de todo tipo de fantasias. Porém, estudos genéticos corroboram a evidência linguística que situa a origem do povo cigano no subcontinente indiano.
Desde a sua chegada a terras europeias, uma das faces da comunidade cigana que mais chamou a atenção dos demais povos era a sua estranha língua, muito diferente das faladas na Europa.
Em 12 de agosto de 1427, chegaram à Paris, onde causaram grande fascinação pelo seu aspecto miserável e estranho, e o povo acudiu em massa para vê-los adivinhar o futuro.
É importante assinalar também que os primeiros grupos de ciganos chegados a Europa ocidental fantasiavam acerca de suas origens, atribuindo-se uma procedência misteriosa e lendária, em parte como estratégia de proteção frente a uma população em que eram minoria, em parte como posta em cena de seus espetáculos e atividades.
Segundo informações do Banco Mundial, na Europa há uma população entre 7 e 9 milhões de ciganos, dos que ao redor de 568 mil (2002) vivem na Romênia, ainda que percentualmente a presença maior do povo cigano é a da República da Macedônia, onde representa 11% da população.
A história do povo cigano foi estudada sempre pelos chamados “não ciganos“, com frequência através de um cariz fortemente etnocentrista, mas não existe uma delimitação clara dentro da própria comunidade (nem fora) acerca de quem é cigano e quem não o é.
No século XVIII, o estudo da língua romani, própria dos ciganos, confirmou que se tratava de uma língua indo-ariana, muito similar ao panjabi e ao hindi ocidental.
É provável que os ciganos originaram-se de uma casta inferior do noroeste da Índia, que, por causas desconhecidas, foi obrigada a abandonar o país no primeiro milênio d.C.
Uma antiga lenda balcânica os faz forjadores (ou ladrões) dos pregos da cruz de Cristo, motivo pelo qual teriam sido condenados a errar pelo mundo, se bem que não há qualquer evidência que situe os ciganos no Oriente Médio nessa época.
O que é aceito pela maioria dos investigadores é que os ciganos poderiam ter abandonado a Índia em torno do ano 1000, e atravessado o que agora é o Afeganistão, Irã, Armênia e Turquia.
Vários povos similares aos ciganos vivem hoje na Índia, aparentemente originários do estado desértico de Rajastão, e à sua vez, povoações ciganas reconhecidas como tais pelos próprios roma vivem, todavia, no Irã, com o nome de lúrios.
No século XII, os ciganos enfrentaram o avanço dos muçulmanos, que tentaram impor sua religião na Índia, e lutaram contra os Sarracenos por muitos séculos, inclusive durante a Idade Média.
Partindo de que os ciganos abandonaram o Subcontinente Indiano, e dali passariam pelo Irã, supõe-se que, mais tarde, tomariam duas rotas: a primeira, desde a Armênia até o Império Bizantino (o que explicaria a presença de vocabulário greco-bizantino na língua dos ciganos) e, a segunda, através da Síria e Oriente Médio e o Mediterrâneo (da que ficariam vestígios de vocabulário árabe).
Em sua estadia nos Balcãs, a língua cigana absorveu o vocabulário germânico, mas a ausência desse resto linguístico nos ciganos espanhóis faz pensar que a migração dividiu-se em duas, antes desse assentamento centro-europeu.
Em 1416, sabe-se da presença de ciganos na Romênia, Boêmia (República Checa) e em Lindau (Alemanha). Em 1471, o rei de Boêmia, Sigismundo II, concedeu-lhes um salvo-conduto e, entre 1418 e 1419, os ciganos já circulavam pela Suíça.
Também em 1427, produziu-se uma das chegadas de ciganos melhor documentadas, conservada na obra “Temoignage d’un bourgeois de Paris“. Como e quando chegaram os ciganos à Península Ibérica é uma questão que está longe de se chegar a um consenso.
O número de ciganos que entraram ou habitaram na Península no século XV é calculado próximo a 30 mil pessoas. Os ciganos viajavam em grupos variados, de 80 a 150 pessoas, lideradas por um homem.
Cada grupo autônomo mantinha relações à distância com algum dos outros, existindo talvez relações de parentesco entre eles (algo comum nos nossos dias entre os ciganos ibéricos).
A separação entre cada grupo era variada e, em algumas ocasiões, uns seguiam aos outros a curta distância e pelas mesmas rotas. A estratégia de sobrevivência mais comum era a de apresentar-se como peregrinos cristãos para buscar a proteção de um nobre.
A forma de vida era nômade, e se dedicavam à adivinhação e ao espetáculo. O século XVI pode ser considerado como a idade de ouro dos ciganos na Europa.
Quando teve lugar o descobrimento da América, em 1492, os ciganos já estavam espalhados por toda a Europa, onde apesar de uma boa acolhida inicial começaram a ser perseguidos, marginalizados, expulsos, severamente castigados, escravizados (como na Romênia, onde a escravidão cigana não foi abolida até 1864) ou simplesmente exterminados.
O desencontro entre os ciganos e os não ciganos perduraria desde o século XVI até a atualidade. A partir do final do século XVI, sucederam-se em toda a Europa autorizações, leis e decretos contra o modo de vida dos ciganos.
A tenacidade dos ciganos, as suas estratégias de ocultamento, de multi-ocupacionalidade (como a chama Teresa San Román), de semi-nomadismo ou itinerância circunscrita, de adaptação às circunstâncias instáveis da legislação, a capacidade para cruzar fronteiras ou para aliar-se em determinadas ocasiões com a população autóctone realizando trabalhos imprescindíveis, faz com que os ciganos de toda Europa resistam à assimilação e conservem as suas próprias características culturais mais ou menos intactos até a atualidade.
A ida dos ciganos para a América correu paralelo à própria diáspora dos europeus. O incansável povo cigano empreendeu então uma nova migração.
Sabe-se que Cristóvão Colombo, na sua terceira viagem, em 1498, introduziu os primeiros três ciganos que pisavam o Novo Mundo. É sabido também que a Inglaterra e a Escócia enviaram remessas de ciganos às suas colônias americanas da Virgínia, no século XVII e Luisiana.
Os ciganos espanhóis só podiam viajar à América com permissão expressa do rei. Filipe I decretou, em 1570, uma proibição de entrada dos ciganos na América, e ordenou o regresso dos já enviados.
É conhecido o caso de um ferreiro cigano (Jorge Leal) que conseguiu autorização para viajar à Cuba em 1602. Teria que esperar à autorização de 1783 para que os ciganos tivessem permissão de residência em qualquer parte do reino.
Os ciganos emigraram à América Latina num número que, como sempre, segue sendo um mistério. Também em torno de 1860, registra-se a saída de ciganos britânicos (“romnichels“) e no início do século XX houve uma nova partida em massa de ciganos valáquios.
A detenção do fluxo migratório no início do século XX não significou uma melhora das condições de vida dos ciganos. Na Baviera, foi elaborado, em 1905, um “Livro cigano“, com um censo inicial de 3 mil indivíduos que logo aumentaria com a colaboração de outros estados germânicos.
O estado da Baviera autorizou o castigo a trabalhos forçados a todo cigano que não pudesse demonstrar ter um trabalho estável, e a República de Weimar estendeu essa medida para toda a Alemanha.
Os censos de ciganos multiplicaram-se em toda a Europa (França, Inglaterra) e na Suíça, em 1926, começou o costume de sequestrar meninos ciganos para serem educados entre não ciganos, prática que só seria abandonada em 1973.
O auge do nazismo e os excessos da Segunda Guerra Mundial fartaram-se com a crueldade com os ciganos. Depois de uns momentos de dúvida, nos que se esteve perto de classificar aos ciganos dentro da raça ariana, Himmler, um dos principais líderes do partido Nazi, ordenou a sua internação e, finalmente, a sua execução em massa.
Só em Auschwitz-Birkenau morreram mais de vinte mil ciganos. O genocídio cigano é um fenômeno relativamente desconhecido, no que colaboraram com mais ou menos interesse (igual ao ocorrido no genocídio judeu) às populações autóctones.
Na Europa central e do leste, sob regimes comunistas, os ciganos sofreram políticas de assimilação e restrições da liberdade cultural. Na antiga Checoslováquia, dezenas de milhares de ciganos da Eslováquia, Hungria e Romênia foram reassentados em regiões fronteiriças da Morávia, e foi proibido o estilo de vida nômade.
As estimativas são de 200 a 280 mil ciganos desprezados do leste ao oeste europeu desde 1960 a 1997. Com a deterioração política da antiga Iugoslávia, 40 mil ciganos chegaram à Itália e outros 30 mil à Áustria.
No Brasil, estima-se que existam entre 678 mil (estimativas do governo) e 1 milhão de ciganos.
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